Tercio Sampaio Ferraz Jr.
Contemporary german philosophy, an its background. Coleção: Mainzer philosophische Fouschungen, editada por G. Funke, vol. 11. Edição H. Bouvier u. Co. Verlag-Bonn – 1970
Fritz-Joachim Von Rintelen. Professor emérito de filosofia da Universidade Gutenberg de Mainz, Alemanha, autor de diversos trabalhos sobre filosofia alemã contemporânea, apresenta desta feita, uma obra cuja finalidade é fornecer ao estudante uma introdução clara ao pensamento germânico em nosso século.
A versão inglesa possibilita ademais uma renovação do intercâmbio cultural, ao tornar acessível a um público mais amplo importantes correntes do pensamento atual, através de uma análise recapituladora das diferentes escolas filosóficas alemãs. Perseguindo-lhes os passos nas suas raízes vitais, o autor revela a impossibilidade de se separar o filósofo da sua filosofia, do mesmo modo que não se separa o poema do poeta que o produziu, introduzindo-se na história filosófica em estreita ligação com a vida espiritual concreta.
Uma compreensão adequada das tendências atuais requer uma pesquisa generalizada dos fundamentos neokantianos, das interpretações filosóficas da evolução biológica e do empirismo moderno em seus vários sentidos, que dão às filosofias da vida e da cultura, às fenomenologias o substrato que as conduziu às novas dimensões do idealismo e do antropologismo de hoje.
O autor tem, neste sentido, a habilidade de conciliar uma exposição didática de diversas correntes como o neokantismo, o neopositivismo, a filosofia da vida, a fenomenologia, a filosofia da existência, e, finalmente, a do "espirito vivente" (na qual o autor se inclui), com um enfoque dinâmico e vivo da própria filosofia no seu evolver histórico. Adquire-se, com isto, um panorama esquemático que traz em acréscimo um exercício do filosofar.
A estrutura do livro dá-nos, nestes termos, um bom exemplo do que afirmamos. Von Rintelen inicia com a "Filosofia do Logos", tal como ela se apresenta no neokantismo, enquanto uma tomada de posição contra os modos materialistas de pensar que o precederam.
Em virtude, porém, da abstratividade dos seus conceitos (Rintelen inclui aí o neopositivismo), a "Filosofia da Vida" emerge como uma reação (v. esp. Ludwig Klages). Uma certa unilateralidade desta última, para a qual a razão aparece como um distúrbio no ritmo e no curso da vida, conduz a uma síntese inclusiva de duas direções na "Fenomenologia": Husserl e Scheler. A "Fenomenologia", entretanto, "põe entre parêntesis" as relações com a realidade concreta, excluindo-a da filosofia. Daí a reação do "Existencialismo" (esp. Heidegger) e o enraizamento no "Dasein" humano de todo o sentido dos entes". Certas questões postas por esta última corrente nos conduzem, afinal, à "Filosofia do Espírito vivente" a qual abrange os pensadores que tentam uma espécie de síntese entre as duas posições da "Fenomenologia" e o "Existencialismo".
Von Rintelen supre, em resumo, com este trabalho, uma escassez na literatura historiográfica sobre a filosofia contemporânea na Alemanha, tanto quanto já o fizera anteriormente no campo da filosofia do valor, com sua conhecida obra "A Filosofia do Valor na Antiguidade" (1924?).
Fonte: Revista Brasileira de Filosofia, vol. XXI, São Paulo: 1971, pp. 207-208.